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terça-feira, 10 de agosto de 2010

SOARES DE RONIERE

Há algumas décadas, os cordeleiros mais inspirados cantarolavam improvisadamente os versos dos folhetos nas feiras livres do Nordeste, de acordo com os seus espíritos inventivos, na tentativa de chamar a atenção dos possíveis compradores, transeuntes, curiosos e demais feirantes. Esse ato criativo de “vender o peixe”, por parte dos vendedores de cordéis, tornou mais explícito o fato de que a música se estabelecia, neste caso, como um elemento acessório desregrado que ampliava o teor artístico do folheto de cordel, até então visto pela maioria das pessoas como puramente literário. Assim, tinha-se, a priori, o texto poético fixo criado pelo autor, a posteriori, a melodia mutante concebida de quando em quando por um co-autor ignoto e, em conseqüência dessa junção acidental, um valor estético múltiplo e interdisciplinar nem sempre percebido. Essa seqüência permaneceu tímida, mas latente por várias gerações até que em 2001 o escritor/músico Roniere Leite Soares resolveu inverter esta ordem, determinando uma prévia melodia fixa, impressa no cordel, de forma que o poema fosse posteriormente criado em função da música registrada em partitura. Desde essa experiência, a melodia imutável pode ser cantada de maneira exclusiva, incorporando a esta todo o conteúdo poemático criado pelo artista popular. Essa mudança de rotina na criação foi experimentada pelo estro do autor há 10 anos no cordel A História de Lampião. Todavia, “não descarto a possibilidade da existência de experiências anteriores com esta peculiaridade e com este objetivo, haja vista que a música é um elemento indecomponível da poesia”, frisa Soares.
No que concerne ao corpo do trabalho “A Rinha Poemática dos Repentistas Noberto Montêro e Ontõi Soares nos Cafundós Celestes de Santa Rosa de Bôa Vista-PB, sexta obra do cordelista, lançada recentemente, a estrutura composicional de cada uma das 32 décimas (estrofes de dez versos) se divide em três partes: os primeiros quatro versos, cantado pelo repentista Noberto Monteiro; o quarteto subseqüente, cantado pelo poeta Antônio Soares; e o dueto final, cantado inicialmente por Noberto Monteiro e depois repetido por ambos, em canto uníssono. A partitura, registrada manualmente na contracapa do trabalho, denominada de tema cordelístico, tem o trecho “A” que se resume as duas primeiras partes de cada décima enquanto que o trecho “B” se constitui como sendo os dois últimos versos da estrofe, ou seja, a terceira parte.
Afirma Roniere Soares que sua maior satisfação é fazer a homenagem póstuma aos dois maiores cantadores de sua terra, pois “eles foram artistas esquecidos pela mídia e sem reconhecimento diante do público com o qual a dupla conviveu timidamente”. Antônio Soares foi patriarca de uma família onde quatro improvisadores se irmanavam em prol da poesia de repente até o início década de 1970. Juntamente com ele, os filhos Enésio Soares, Manoel Soares e a filha Otília Soares eram companheiros da cantoria de viola, debaixo dos juazeiros do Sítio Riachão, zona rural do atual Município paraibano de Boa Vista. Ao lado, vizinho geograficamente, o Sítio Santa Rosa, da mesma cidade caririzeira, guardou até a década de 2000, outro grande talento que foi o Noberto Monteiro, cantador de viola bastante conhecido através das principais rádios AM de Campina Grande, a citar: Rádio Borborema, Cariri e Caturité, entre outras.
No plano lingüístico, o tópico sobre o qual se confere o(s) comentário(s) pode modular entre as três partes, pois ocorre às vezes como único ou como sendo duplo ou triplo. Pode-se ter no bloco de cada décima, por exemplo, um tópico para o primeiro quarteto (1ª parte), outro diferente para o segundo quarteto (2ª parte) e mais um distinto para os dois derradeiros versos (3ª parte), assim como também podemos encontrar um tópico que pode ser abordado em duas ou três partes. Para melhor entendimento, aconselhamos a observação da 1ª décima (três tópicos), da 3ª décima (um tópico) e da 16ª décima (dois tópicos).
Roniere L. Soares pretende ainda no ano corrente, fazer um tributo ao poeta que é considerado pela crítica local como o mais erudito de sua terra natal, que é o poeta de bancada Edvaldo Perico, seu parente muito próximo, falecido no primeiro semestre do ano 2010 e sepultado em Boa Vista-PB. Diz o cordelista que a oportunidade de lançar um trabalho que sugere retomada histórico-biográfica se justifica pelo fato do poeta poder renascer do esquecimento, “envivecer para a juventude futura, a qual não pôde com Edvaldo conviver”.
Sugerimos assim essa leitura tipicamente regional que se constitui com sendo uma mina na atual arte midiática, cujo caminho do tesouro é a banca de no 41 ou barraca do Lourival, no Calçadão da Cardoso Vieira, em Campina Grande-PB (R$ 1,00 cada).

Contatos: (083) 3333-9524 ou (083) 9362-8447 (ronieter@gmail.com)